COMFORT FOOD

“In the childhood memories of every good cook, there´s a large kitchen, a warm stove, a simmering pot and a mom.”

“Nas memórias de infância de todo bom cozinheiro, encontra-se uma grande cozinha, um fogão quente, uma panela fervendo e uma mãe.”

– Barbara Costikyan

Vamos falar sobre Elas: nossas mães, avós, bisavós, e aqueles que desempenham esse papel; que nos ensinaram e moldaram o nosso gosto; criaram o nosso paladar e hoje, já adultos, sentimos aquela sensação de prazer e nostalgia da nossa infância toda vez que comemos algo que nos remeta a esse período. Este sentimento de acolhimento foi nomeado como comfort food (comida afetiva, em tradução livre).

O conceito de comfort food foi criado para contradizer a forma mecanizada de se preparar e se consumir os alimentos.

 Não se trata apenas de “o quê”, mas também sobre “como” se come. É a comida, de forma simples, que se relaciona aos momentos, aos lugares, às pessoas e às situações (COHEN, ANA DE BARROS; SANT´ANA, MARCELLA RAMOS (2021).

Para explicitar a importância e a relevância das comidas que nos afetam e nos deixam emotivos, podemos nos lembrar de como o crítico do filme “Ratatouille”, Anton Ego, reage ao degustar o prato que leva o mesmo sabor daquele feito por sua mãe. Da mesma forma, podemos citar a passagem do livro “No caminho de Swann”, de Marcel Proust:

 “Ela mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheios chamados madalenas e que parecem moldados na valva estriada de uma concha de são Tiago. Em breve, maquinalmente, acabrunhado com aquele triste dia e a perspectiva de mais um dia tão sombrio como o primeiro, levei aos lábios uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena. Mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção de sua causa(…) de onde me teria vindo aquela poderosa alegria? (…)E de súbito a lembrança me apareceu. Aquele gosto era o do pedaço de madalena que nos domingos de manhã em Combray (pois nos domingos eu não saía antes da hora da missa) minha tia Léonie me oferecia, depois de o ter mergulhado em seu chá da Índia ou de tília, quando ia cumprimentá-la em seu quarto.”

Proust, Marcel. No caminho de Swann (Em busca do tempo perdido) (p. 64). Globo. Edição do Kindle.

Deste modo, Massimo Montanari (2013) aponta para a ideia de que: “a comida não é “boa” ou “ruim” por si só: alguém nos ensinou a reconhecê-la como tal”.  Assim sendo, as gerações seguintes continuam a desenvolver suas próprias características, criando seus próprios sabores de afeto.

Referências:

Cohen, Ana Rita de Barros; Sant´Ana, Marcella Ramos. Cozinhando com afeto e funcionalidade. São Paulo. Editora Senac São Paulo, 2013.

Montanari, Massimo. Comida como cultura. São Paulo. Editora Senac São Paulo, 2013, 2ª edição.

Proust, Marcel. No caminho de Swann (Em busca do tempo perdido) (p. 64). Globo. Edição do Kindle.

Ratatouille. Direção de Brad Bird. EUA: Pixar, 2007.

*Na imagem (acervo pessoal): esta é minha cozinha de conforto.

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